sábado, 14 de julho de 2012

A mulher no hospital


Uma mulher apareceu no Hospital Central Auroriano no final da tarde. Ela não vestia nada além de uma camisola branca totalmente coberta de sangue. Isso por si só não é tão absurdo, pois se acontece algum acidente, a pessoa vai direto para o hospital mais próximo em busca de auxílio. E em um lugar como Aurora, muita gente precisa de auxílio. Mas neste caso em específico, duas coisas eram perturbadoras de verdade.
A primeira é que a mulher não parecia exatamente “humana”. Suas feições se assemelhavam a de um manequim, com a pele anormalmente esticada sob o rosto estranhamente desprovido de sobrancelhas e de qualquer marca, coberto de maquiagem. Seu nariz era fino e alongado, levemente arrepiado. Seus olhos eram vidrados e inexpressivos, assim como seu rosto que permanecia sereno. Ainda assim, seu corpo esguio e quase esquelético se movia de forma fluida, como um ser humano normal. A segunda coisa era suas grandes presas. Por conta da forma artificial com a qual suas mandíbulas se prendiam em seu rosto, não era possível ver seus demais dentes.
O sangue dela ainda estava escorrendo e esguichando por sobre o tecido branco quando ela entrou no hospital, manchando todo o chão. Logo em seguida ela abriu a boca e cuspiu uma grande quantidade de sangue para o lado, logo antes de entrar em colapso e cair de bruços.
A partir daí, ela foi posta em uma maca e foi levada até um quarto limpo para ser sedada. Neste momento eles perceberam a textura rígida de sua pele, quase como um papel, cheia de marcas e cicatrizes disformes. Ela estava completamente calma e imóvel. Após o primeiro susto, os médicos convenceram-na a permanecer no hospital até que as autoridades chegassem.
Ninguém conseguiu obter qualquer tipo de informação da mulher e mesmo os membros mais experientes da equipe conseguia manter contato visual com ela por mais que alguns segundos sem sentir um grande desconforto por conta de sua aparência artificial.
Ela dormiu durante todo o dia seguinte, o que aliviou os enfermeiros, que só precisavam chegar perto dela durante breves momentos, sem ter de interagir com aquela mulher estranha.
Quando ela acordou no início da noite, a equipe médica tentou examina-la mais a fundo, porém ela lutou com força extrema. Foram necessários três homens para segura-la em sua cama para que alguém pudesse chegar perto para tentar sedá-la. Neste momento ela se ergueu com enorme facilidade, arremessando longe quem estivesse mais perto e ostentando sua perturbadora expressão em branco.
Ela virou os olhos de vidro para o médico que estava com a seringa em mãos, mexeu a cabeça de modo animalesco e fez algo estranho. Ela sorriu. Sua carranca maniqueísta exibiu longas presas afiadas. Não eram dentes humanos, mas lâminas compridas o bastante para que pudesse fechar a boca sem sofrer qualquer tipo de dano. Uma enfermeira gritou e entrou em estado de choque.
Ela chegou perto do médico, ainda sorrindo, e este perguntou em pânico “O que diabos você é?”. Ela arrancou seus braços num único impulso, logo antes de ouvir a segurança vindo pelos corredores. Nisso ela enfiou seus dentes no pescoço do médico, rasgando a jugular e a traquéia e o deixou caído no chão, vivo o bastante para morrer engasgado com o próprio sangue.
Ela se aproximou de seu rosto, apenas para ver a vida findar em seus olhos.
A única enfermeira que ainda estava lúcida assistiu a tudo, apavorada debaixo da cama. A mulher se levantou e se posicionou perto da porta, tranquilamente esperando pela segurança. Ela acabaria com qualquer um que aparecesse ali...